Content area
Full Text
RESUMO A narrativa Maria! Não Me Mates, Que Sou Tua Mãe!, publicada pelo escritor português Camilo Castelo Branco, sob anonimato, em 1848, tem seduzido atéhoje ouvintes e leitores com formações e gostos muito diferentes entre si. Este texto, uma das primeiras obras em prosa do autor da célebre novela romântica Amor de Perdição (1862), surgiu em folheto de cordel. O seu grande sucesso pode avaliar-se pelas várias edições que teve logo entre 1848 e 1852. Neste artigo, procuro compreender esta obra no contexto da produção literária de Camilo e da cultura portuguesa e europeia de meados do século XIX.
O folheto de Camilo, Maria! Nao Me Mates, Que Sou Tua Mae! baseou-se num caso que foi noticia nos jornais portugueses em 1848: em Lisboa, uma filha (alegadamente) mata e rouba a sua möe. No dia 16 de marco de 1889, nO Imparcial, Tomas Ribeiro referia-se nestes termos ao crime e a narrativa, que e, com este título, pela primeira vez atribuida publicamente a Camilo: Os jornais noticiaram entöo o assassinato duma pobre velha, atribuido a sua proí pria filha. . . . Camilo escreveu uma noite o pequeno livro que ia sendo consecutivamente impresso. No dia seguinte a comovente narrativa, comprada sofregamente, salvava o poeta duma bancarrota (Coelho 245-246; Marques 4). O proprio Camilo conta ao escritor Alberto Pimentel, autor da biografia O Romance do Romancista: Vida de Camilo Castelo Branco (1890), "que recebera em cobre o preco deste folheto, e que foi grande a sua satisfaçâo quando em casa comecou a despejar as algibeiras atulhadas de patacos" (Pimentel 122).
Em tudo, no suporte, nas formas, nos conteudos, na comercializacäo e na difusäo, perfeitamente de acordo com as características da chamada literatura de cordel, Maria! Nao Me Mates, Que Sou Tua Mae! teve "sucessivas tiragens, mesmo sem levar o nome do autor", segundo palavras e testemunhos quer de Tomas Ribeiro (Coelho 246; Marques 4), quer de autores de bibliografias camilianas de finais do seculo XIX e do inicio do seculo XX. Na Bibliografia Camiliana (1894), Henrique Marques, que descreve duas edicoes de Maria! Nao Me Mates, Que Sou Tua Mae!, afirma, a proposito da primeira edicäo: "Posteriormente, deste livro insignificante em si, mas que se tornou popularissimo, foram tiradas muitas edicöes; quantas näo sei,...